Uma pesquisa realizada pelo NetLab da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) revelou que 137 canais no YouTube no Brasil publicam conteúdo explicitamente misógino, somando mais de 105 mil vídeos e cerca de 152 mil inscritos. Esses canais, que fazem parte da chamada ‘machosfera’, têm conseguido monetizar suas produções, movimentando milhares de reais com conteúdos que promovem ódio contra as mulheres.
A pesquisa identificou que aproximadamente 80% desses canais adotam pelo menos uma estratégia de monetização, que inclui anúncios, doações em transmissões ao vivo e venda de produtos e serviços. Entre as táticas mais comuns, 52% dos canais exibem anúncios, enquanto 28% utilizam o Programa de Membros do YouTube, permitindo pagamento de assinaturas mensais em troca de conteúdos exclusivos.
Os Super chats, que são doações feitas por espectadores durante transmissões ao vivo, também se mostraram uma forma lucrativa de arrecadação, com um total de R$ 68 mil arrecadados em 257 lives de oito canais. Além disso, 28% dos canais analisados vendem cursos e produtos, com alguns influenciadores cobrando até R$ 1 mil por consultas individuais.
Embora o YouTube proíba conteúdos que promovam violência ou discurso de ódio, a eficácia dessas políticas tem se mostrado limitada. Os produtores de conteúdo da machosfera utilizam estratégias para evitar a moderação, como linguagem própria para mascarar o caráter misógino de suas mensagens. A blogueira feminista Lola Aronovich, que tem sido alvo de ataques por seu ativismo, destaca que a regulamentação das plataformas é fundamental para combater essa cultura de ódio.
A pesquisa aponta que o número de vídeos da machosfera aumentou significativamente desde 2022, coincidindo com o crescimento dos índices de violência contra mulheres no Brasil. A ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, afirmou que o discurso de ódio disseminado nas redes repercute em todo o país, autorizando a violência contra mulheres e tornando a regulação das plataformas uma prioridade.